Com o objetivo de fomentar o
debate sobre as condições reais das escolas do campo/classes multisseriadas,
buscando indicativos e elementos propositivos que contribuam para a construção
das Diretrizes Curriculares a partir da escuta dos professores aconteceu com
muito bom êxito e foi de suma importância ter a oportunidade de participar
desse evento, levando a experiência das escolas de Senhor do Bonfim e Campo
Formoso por onde vivencie a ação da educação do campo local.
Foram dois dias de palestras e
testemunhos de práticas pedagógicas que muito vão contribuir com construção
dessas Diretrizes para o Estado da Bahia. (Precisamos de um referencial nosso,
que nos identifique e que tenha nosso identidade).
Iniciamos por uma apresentação
cultural já demonstrando a importância do envolvimento da comunidade com a
proposta de educação do campo onde a comunidade quilombola de Dandá de Simões
Filho fez uma bela apresentação da capoeira com musicas que retrataram a força
da mulher quilombola e em seguida a roda de samba com mulheres e crianças demonstrando
a alegria e entusiasmo com a cultura local.
Em seguida foi feita a
apresentação da equipe de coordenação pela coordenadora da educação do campo do
Estado da Bahia Givandete Evangelista ( Vanda), e Olga Alice coordenadora do seminário.
Após as apresentações duas
palestras foram proferidas com Salomão Hage, referencia nas classes
multisseriadas , o primeiro a introduzir a temática das classes multisseriadas
nas universidades e Ivânia Freitas, também pesquisadora da temática que há anos
já contribuí para a educação do campo do semi-árido baiano.
Hage nos aponta que há muito
tempo foi construído uma identidade com
a expressão de que as escolas multisseriadas era um mal necessário, daí precisamos
transgredir essa identidade, equivocada e preconceituosa. Coisa não muito fácil,
pois há séculos essa identidade foi fortalecida.
Discorreu sobre o agronegócio e sua consolidação, o lugar do
campo no desenvolvimento, a alavanca da economia nacional, sobre a produção de
comodites para exportação e das lutas no
campo onde 347 pessoas já morreram no campo tentando defender suas causas.
Falou sobre o quantitativo das
populações do campo, das matriculas e do numero de classes seriadas que aponta
ser o Nordeste a região de maior quantitativo e concluiu falando da formação de
professores onde destacou que só organizando um programa de formação não vai ser
suficiente para resolver o problema.Existem ainda 40% das escolas do campos em
sede própria e que ainda não tem água potável.
Nos últimos anos foram fechadas
30 mil escolas do campo e se mostrou contra a nucleação escolar.
O MST tem liderado uma campanha
contra o fechamento dessas escolas. “ Se a escola fecha é sinal de que nem a
educação a comunidade merece” Fala de Anderson, um dos participantes do
seminário.
Hage ainda frisou: faz diferença
ser transportado no Sul do país e no Nordeste !
Contradições: · A legislação avança, avança no sentido de assegurar os direitos;
·
O atendimento se pauta pela relação
custo/beneficio;
·
Em termos de políticas Públicas: realidade
rural, referencias urbanas;
Heterogeneidade:
·
Característica fundante das escolas do campo
·
A maioria das escolas do campo são
multisseriadas
·
Há uma polarização entre ser contra ou a favor das escolas multisseriadas;
·
Há pouca ajuda para as escolas multisseriadas.
Nestes casos
as escolas do campo são marcadas por uma ambiguidade:
- a
precarização da estrutura física;- as evidencias de situações críticas efetivadas no cotidiano pelos professores.
Finalizou com
sua consideração “É preciso construir um documento de referencia , mesmo não sendo
o ideal”.
Depois tivemos
a fala de Ivânia Freitas que destacou alguns méritos das classes
multisseriadas:
·
Saída do anonimato;
·
Avanço da legislação;
·
Avanço teórico;
·
O funcionamento nas redes, como se efetiva?
a) As
formas de acesso e formação-inicial e continuada;
b) SME
(equipes, formato, condições de acompanhamento, formatos dos cursos;
c) Parcerias(institutos,
ONGs, ...);
d) Programas;
e) Universidades
(UNEB), currículo e perfil docente formados;
f) Propostas
políticas de formação (???????)
Ainda não foi alterada a situação
das escolas do campo !Ainda não foi alterado o currículo !
Fazer o que, como e de que forma?
É preciso ver os acertos nessas turmas multisseriadas.
De todas as falas o que marcou foi qual conceituação devemos apontar em direção as turmas cotidianamente chamadas de multisseries?
Seria turmas multisseriadas, ou
escolas multisseriadas? Essa discussão
foi muito interessante.
Houve então os relatos de experiências
que muito nos fortaleceu. Um destaque especial ao professor Isaac Nirlan da
cidade de Gentil do Ouro que com sua simplicidade mostrou que é possível uma
educação do campo, sobretudo com classes multisseriadas funcionar bem.
Imagine um professor sem
formação, contratado apenas de março a novembro, que ganha pouco mais que um salário
mínimo para poder pagar o local onde mora, em uma escola super precária , sem
acompanhamento pedagógico e distante da sede, ele conseguiu fazer todos
chorarem por apresentar uma escola super envolvida com a comunidade onde a aprendizagem
e evidenciada pela dedicação, criatividade e entusiasmo desse profissional.
Isaac, parabéns, é desse
profissional que o Brasil precisa !
Para finalizarmos foi feito
trabalhos e grupos para responder alguns questionamento que servirão de base
para a escrita do documento norteador da educação das classes multisseriadas,
ou escolas multisseriadas da Bahia:
1- Qual
nosso olhar sobre as classes multisseriadas?2- Ensinar e aprender nas classes multisseriadas, como isso acontece?
3- Quais as possibilidades de organização do trabalho pedagógico nas classes multisseriadas(Tempo pedagógico, enturmação, planejamento)?
4- Como avaliar os alunos das classes multisseriadas?
5- Que outros espaços de aprendizagens podem ser incorporados no contexto da classe multisseriada?
6- Quis as possibilidades de reorganização e qualificação do tempo pedagógico na classe multisseriada?
7- Quis os saberes e fazeres necessários para o educador atuar na classe multisseriada?
8- Que espaços formativos são necessários para o educador da classe multisseriada?
Finalizando gostaria de falar do imenso prazer em ter
estado presente neste seminário e aqui transmitir aos leitores deste blog e aos
professores que fazem a educação do campo de Senhor do Bonfim e região um
retorno do que eu enquanto pesquisador, estudioso e representante desse grupo me
coloco à disposição!
Segue alguns momentos especiais em imagens: