Este blog tem a pretensão de ser um espaço democrático destinado à publicação de textos, informações, artigos científicos, divulgação de eventos e comentários a respeito dos campos da Educação do Campo de Senhor do Bonfim e região, com ênfase aos estudos e conhecimentos pedagógicos locais. O blog é coordenado pelo Prof. José Carlos R.Feitosa (reisfeitosa@hotmail.com), a partir do exercício de sua função como educador e estudioso do fazer pedagógico. Sejam bem vindos!

sábado, 24 de março de 2018

Escolas Militares: É preciso ver a outra fase da lua


José Carlos Reis Feitosa


Estamos vivendo momentos difíceis nos rumos econômicos e políticos do Brasil, e medidas consideradas retrógradas, alienáveis e antidemocráticas recheiam o cenário.
Para muitos, que apenas conseguem enxergar o lado claro da lua, parece-lhes que é um conjunto de medidas apenas necessárias, todavia será que necessárias se fazem para a melhoria da qualidade de vida dos brasileiros? Será que ao amanhecer quando a lua não mais estiver visível, nada poderemos ver se já estivermos totalmente cegos?
Aqui considero apenas algumas dessas medidas que aponto a obscuridade do lado oculto da lua:
Escolas sem partidos, onde professores usam amordaças para apenas se posicionarem como transmissores de conteúdos já sendo implantadas;
Congelamentos de recursos públicos por 20 anos, para assim diante da inflação não mais sairmos do lugar inicial;
Reforma do ensino médio, eliminando disciplinas que compunham a formação do senso crítico;
Reforma trabalhista que apresenta graves impactos para todos os profissionais de educação que recebem em média o equivalente a metade do salário de outros profissionais que possuem nível superior;
Base Nacional Comum Curricular que se antes já era composto por concretas tendências neoliberais, agora  materializa-se com o apoio dos grupos empresariais que efetivamente dirigem nosso país;
Com base nestas medidas me atenho agora, preferencialmente a refletir sobre a mais nova tendência de governantes meramente administradores (com intuitos meramente políticos) que apoiam tais medidas acima citadas e que aproveitam dos reles seres passivos, possuidores de ideias e ideais do senso comum, para assim apresentarem a proposta de Escolas militarizadas. Afirmando estas serem a solução para acabar com a violência e a falta de aprendizado nas escolas.
Proponho aqui aos leitores, como diz a psicóloga Ligia Martins, doutora em educação pela UNESP, precisamos abrir nosso terceiro olho e vermos para além das aparências. O que está por trás de tais medidas como salvadoras da pátria!
Vamos iniciar nossa reflexão analisando qual o papel da escola e do professor.
Para Saviani:
O objeto da escola diz respeito, de um lado, à identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que eles se tornem humanos e, de outro lado e concomitantemente, à descoberta das formas mais adequadas para atingir esse objetivo.
Pois bem, identificar e perceber o que é essencial e o acidental, o principal e o secundário para que o aluno se torne humano e também a melhor forma da garantia dessa materialização, esta é a ação da escola. Todavia é preciso a reflexão de para qual sociedade a escola forma esse homem.
Uma sociedade do poder? do autoritarismo? da ditadura? da falta de liberdade? do medo? do capitalismo?
Este já é o modelo da sociedade atual, vigente em nossos dias, pelo menos a qual os trabalhadores brasileiros sustentam doando suas forças por salários minimizados e saques de impostos cada vez maiores e arbitrários.
De acordo com Marx e Engels, na sociedade capitalista a EDUCAÇÃO se constitui como um elemento de manutenção e conservação da hierarquia social. Portanto, se faz jus questionarmos o porque de regredirmos ao militarismo iniciando já pelas portas das escolas que se abrem?
E o professor, qual sua postura, seu papel diante desse objetivo escolar?
Trago novamente Saviani(1994) que de forma clara conceitua: “Trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida historicamente e coletivamente pelo conjunto dos homens”.
Formar em cada aluno singular a humanidade, significa conceber-lhes um desenvolvimento que os molde como seres cada vez mais plenos. Assim, diante de tantas conquistas, produzidas ao longo da história, ao qual o homem tanto se desenvolveu, como retroceder a um período marcado por barbáries propagadas pelos movimentos da ditadura militar?
Segundo João Paulo Caldeira:
No Brasil do século XX, a tortura foi praxe nos dois maiores períodos ditatoriais que o país viveu, na época do Estado Novo (1937-1945) e do regime militar (1964-1985), sendo institucionalizada neste último período, banalizando-se e revelando-se como um método eficaz de garantir um Estado de ilegalidade.
Assim legitima por força antidemocrática, a institucionalização das escolas militares como proposta para implantação em todo o Brasil, apresentando bons índices de IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica)  e de aprovação em vestibulares, sem fazer a população estudar, refletir e conscientizar-se do que ainda está por vir.
As escolas Militares são sucesso, porém observemos suas configurações:
Primeiro, ela foi idealizada para os filhos dos militares, assim a herança se perpetuará;
Segundo, há uma seleção através de provas, onde estes alunos já se preparam previamente para estes exames e consequentemente entram na escola com o habito do estudo;
Terceiro, todas as escolas militares possuem uma infraestrutura condizente com a necessidade de um padrão mínimo de qualidade;
Quarto, professores em constantes formações continuadas;
Quinto  e último, alunos obrigatoriamente precisam defender a instituição (com bons resultados), que não mais se apresentam como escolar, mas sim como escolar/militar.
É claro que a educação precisa de uma grande reforma, isso já se falava desde a década de 90 quando adentramos na Universidade e começamos a formar nossa consciência acadêmica. Estávamos já dentro das concepções escolanovistas e alguns vestígios do tecnicismo insistia em permanecer, entretanto se consolidava o construtivismo.
Este sim veio para transformar o ensino e o estudante em meros fantoches de um movimento de efetivação da sociedade capitalista que hoje nos escraviza e destrói o desejo de luta de classe do povo brasileiro.
Nestas escolas “O papel do professor [...] deixa de ser o daquele que ensina para ser o de auxiliar o aluno em seu próprio processo de aprendizagem.” (SAVIANI,2008)
Agora surge as ideias de regresso com as escolas militares ou de gestão compartilhada.
Importante salientarmos, “A escola está impregnada de ponta a ponta pelo aspecto político”, Saviani (1991) cita Guiomar Nello.
É notório que a ação educativa condiciona a uma junção entre o ato político e o ato pedagógico.  Todavia o ato político tem de ser libertador, transformador, como já dizia Paulo Freire(1968): “Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”. Portanto se faz necessário o ato político transformador e o ato pedagógico intencional para libertar, não para oprimir.
O discurso da “transformação” que hoje se propaga em governos ditatoriais é apropriado pela classe dominante para manter a hegemonia.
Portanto nos dirigimos agora ao público de educadores. Precisamos estudar, nos posicionar, não aceitar meras transformações sem juízo de valor, precisamos ser mais competentes, essa é nossa principal arma, precisamos fazer mais política, não política partidária, essa faz parte do controle das massas, mas precisamos sermos competentes no fazer pedagógico a partir de nossos compromissos com uma sociedade melhor.
“Não se faz política sem competência e não existe técnica sem compromisso... A política é também uma questão técnica e compromisso sem competência é descompromisso”, posicionamento de Saviani (1991).
A Prof. Virginia Maria Pereira de Melo contribui afirmando:
As escolas militares embora tenha boa repercussão na sociedade em geral, por seus resultados imediatos, está marcada por equívocos graves, que podem repercutir negativamente na formação de várias gerações. É princípio constitucional que o Estado deve oferecer a todos uma escola pública, gratuita, democrática, com diversidade de ideias e concepções pedagógicas, e à qual todos tenham as mesmas condições de acesso e permanência com sucesso.
Estudar numa escola em que as alunas são proibidas de soltar os cabelos, usar a cor que lhe convém, pintar suas unhas. Onde os meninos precisam ter cabelo cortado no padrão único, não poder usar nenhum indumentário, além de todos usarem gritos de guerra, não usar celular, estar sempre fazendo continências, não seria apenas uma forma de  apenas desvelar o perigo de extremismos e de que o poder de coação do Estado é soberano?
“Militarizar escolas para resolver problemas é um retrocesso que acredito que temos que tentar reverter”, afirmou o também polêmico ex-ministro da Educação do governo Dilma Rousseff, Aloizio Mercadante, no Pleno do Fórum Nacional de Educação (FNE) (2016).
Não é nosso objetivo aqui macular a instituição da policia militar, esta que nos ampara e nos protege. Todavia temos o conhecimento também dos percalços que passam os profissionais dessa área, pelo confronto que fazem para nos garantir a segurança com quadros reduzidos de pessoal, salários demasiadamente incoerentes, viaturas sucateadas e outros mais problemas existenciais. Estes também necessários de atenção do Estado.
Incorporar nestes a tarefa de serem professores na educação pública é ampliar seus universos de responsabilidades para assim caracterizar uma educação onde se troca o professor com o livro por um policial com uma arma.
A educação escolar é campo de aprendizagem, de formação, de cidadania, de construção de valores e atitudes que se dão na interação uns com os outros, e sendo assim se faz jus um ambiente promotor de democracia, ainda que está não se efetive na íntegra, pois é um processo sempre em construção. Para isso ela não precisa ser militarizada. Bastaria somente que nossos governantes, ou seja o Estado e família cumprisse com sua obrigação, ou seja um assumisse a responsabilidade com a destinação dos recursos necessários (condições físicas, salários dignos, materiais pedagógicos, merenda de qualidade, formação continuada dos profissionais, gestão democrática e participativa) e o outro com a educação não formal preparada mesmo antes de chegar a escola.
Aos leitores espero ter conseguido mostrar “o lado escuro da lua”, assim todos podem e devem ter um posicionamento para além dos achismos e das transformações que mais se assemelham a imposições de cima para baixo. Não esquecendo que a informação é o nosso terceiro olho.
Para finalizarmos deixamos aqui  5 razões contra a militarização de escolas, copiado do site pressenza.com:
1- Policiais não estão preparados para debater ideias, qualquer divergência ou discussão já descambam para agressão;
2 – Nessas escolas, as crianças e os jovens não sabem o que é liberdade. São o tempo todo submetidas a um regime disciplinar arbitrário, ao pior estilo “Vigiar e Punir” (ver livro de Michel Foucault sobre espaços de dominação e “fabricação” de indivíduos por meio da disciplina);
3 – Não são ensinadas a dar valor aos seus direitos, garantias e liberdades às quais têm ou deveriam ter acesso;
4 – Aprendem que, para serem “bons” cidadãos, devem simplesmente obedecer a quem tem poder, mesmo que isso os tolha de suas individualidades e direitos. Mesmo que isso perpetue ainda mais as desigualdades e a discriminação;
5 – São ensinadas a aplicar o mesmo regime de dominação rigorosa caso se tornem os futuros detentores de poder (político, militar, econômico, religioso etc.). Repetindo o ciclo de dominação e violência na qual se formaram.
Numa divisão de classes em que o trabalhador só é preparado para obedecer ficará cada vez pior o processo de humanização humana, portanto é preciso promover a emancipação deste homem e a necessária  integração entre ensino e trabalho com uma formação omnilateral, isto é, uma formação emancipatória em todos os sentidos.
Fica a reflexão para todos!


domingo, 10 de dezembro de 2017

Contribuir com a Educação é o meu lema!



Contribuir com a Educação é o meu lema!


            JOSÉ CARLOS REIS FEITOSA
Cada um dá um pouco do que tem. Cada um empresta o que tem! “Vamos emprestar a nossa humanidade à criança.” É possível? Claro que sim, porem Ninguém empresta o que não possui! (Ligia Martins - grifo meu).
Um imenso prazer mais uma vez participar como formador da Escola da Terra através da UFBA.
Contribuir com o pouco que tenho, emprestando meu psiquismo e recebendo de volta através do meus cursistas a catarse por mim colaborada. Não existe maior satisfação! Funções psíquicas ( sensação, percepção, atenção, memória, linguagem, pensamento, imaginação, emoção/sentimento) que saíram da forma elementar e tornaram-se superiores, desenvolvida por minha mediação...
É a tarefa que tento desenvolver a cada dia no meu universo profissional. Porem nem sempre tenho o mesmo reconhecimento, mas espiritualmente falando Deus sabe nos valorizar e nos coloca sempre nos lugares onde precisamos estar. Digo isso porque atuo diretamente em dois municípios e nenhum dos dois me reconhece enquanto Mr. em educação e pesquisador da Educação do Campo que é uma área extremamente necessitada de atenção em ambos municípios... E consequentemente hoje me sinto feliz em colaborar com os município de Varzedo e de Nazaré, ambos participantes do Polo de Formação de Santo Antonio de Jesus.
Já formei turmas em Campo Alegre de Lourdes, Filadelfia e colaborei também com Serrinha.
Infelizmente devido a essa política neoliberal e golpista que hoje engendra e engessa nossa educação, diminuído e congelando os recursos, está muito difícil contemplarmos todos os 417 municípios baianos nas proposições de uma pedagogia critica libertadora e que talvez seja a única capaz de transformar os planos dos burgueses que desejam apenas esse molde de educação subserviente aplicada na atualidade por nossas escolas, faço referencia a Pedagogia Histórico Crítica. Pior querem implantar as Escolas Sem Partido para assim moldar de uma única cartada toda a sociedade.
Me entristeço em saber que minha terra natal, Senhor do Bonfim, que já passou por uma formação para implementar a PHC, hoje financia um programa patrocinado pelo SENAR cuja bandeira é o agronegócio e que esta utilizando as portas das escolas do campo de nosso município como entrada de propostas pedagógicas aparentemente cheias de boas intenções, mas que carregam sobre si efeitos desastrosos para a perpetuação desse sistema capitalista e desmerecido por nossa população.  Detalhe senhor do Bonfim eleva a bandeira do maior partido que se apresenta contra o agronegócio, contra a supremacia de classes, contra a hegemonia da população urbana em relação ao rural. Não dá pra entender... Ou melhor, dá sim... Quem sabe Bonfim apenas representa apenas uma das ramificações destruidoras da ideologia petista presente dentro do próprio partido? Reflitam...
No mais me resta o pensamento:
A cada nova manhã, nasce junto uma nova chance... Começo o dia sorrindo. Afinal, coisa boa atrai coisa boa...
Que a cada dia, apesar dos obstáculos que a vida nos impõe, possamos ter sempre:
brilho no olhar, firmeza nos passos, delicadeza nos gestos e coragem pra seguir em frente!

segunda-feira, 31 de julho de 2017

A Educação fotografada em preto e branco!



A Educação fotografada em preto e branco!

José Carlos Reis Feitosa- Me. em Educação


Tem momentos que nos pegamos a pensar que estamos em outro plano espiritual. Será que desencarnamos e ainda não entendemos o que ocorre? E porque que está tudo tão preto e branco, sem cor, sem vida?
Olhamos a paisagem e nos sentimos congelados no tempo, mas só nos sentimos assim porque já vimos estas mesmas paisagens tão coloridas, tão vivas, tão vitoriosas. Parece-nos que fizemos uma viagem no tempo e que estamos agora presos nesse tempo antigo, de memórias desgastadas, amareladas, ruídas, rasgadas... Falta-nos esperança, sonhos, forças para colorir tudo e assim voltar ao plano de onde viemos... Onde tudo se fazia luta, coragem e vitórias, mesmo em meio às dificuldades para o alcance de tal sucesso.
Então foi nesse tempo de vitórias que vimos na querida Campo Formoso colegas professores exercerem suas profissões alegres, alunos cheios de ideais, gestores democráticos e comprometidos e uma sociedade muito otimista.
Vimos professores ganhando prêmio nacional de educação e isso foi orgulho para que em palestras pudéssemos enaltecer ainda mais os rumos da educação campoformosense. Aqui outrora foi terra que formou grandes cidadãos e que hoje ocupam os mais diversos cargos nesta sociedade baiana, e quem os ajudou? Nós professores!
Trazemos em memória o saudoso Professor Rômulo Galvão, que lapidado por seus primeiros professores em Poços chegou a ocupar o cargo de Secretário de Educação do Governo Estadual, Secretário da Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação, Delegado Federal do Ministério da Educação para o Estado da Bahia e Presidente do Conselho Estadual de Educação. Isso nos engrandece enquanto professores que somos, pois temos consciência de onde pode chegar o exercício de nossa profissão. Na atualidade temos vários ex-alunos atuando nas diversas atividades profissionais, não só em Campo Formoso, mas em todos os lugares desse mundo.
Conhecemos colegas professores da atualidade que ganharam premio nacional em Educação. Sim caríssimas colegas da extinta Escola Ativa, hoje Escola da Terra. Usamos esse exemplo em tantas formações pelo estado da Bahia à fora, elevando o nome de Campo Formoso tão amada.
Tínhamos orgulho de recebermos os melhores salários do interior do Estado e os incentivos não eram poucos, pois a educação nas imagens reais era colorida, viva... E olha que não tínhamos IDEB, nem metas a cumprir para que nos garantíssemos os recursos necessários ao funcionamento das escolas...
É fato que havia uma precariedade, mas conseguíamos formar muito mais estudantes conscientes e críticos que os dias atuais. Então o que aconteceu?
Aconteceu que interesses politiqueiros tomaram conta da cidade nos últimos anos, entrava um, sai. Entrava outro, saia... Ninguém teve condições de olhar para os vários setores da gestão e a educação, mola propulsora do desenvolvimento e crescimento da sociedade, ficou a deriva. Agora culpam os professores de índices negativos da educação do município.
Mas, nós professores que segundo Dermeval Saviani: somos executores do ato de produzir direta e intencionalmente, em cada indivíduo a humanidade produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens, não podemos aceitar essa culpa, pois não dependem apenas dos professores as condições materiais para essa produção.
Primeiramente precisamos de condições psíquicas que nos favoreçam trabalharmos felizes, prazerosos e fisicamente saudáveis. A infelicidade se apresenta sobre vários aspectos: baixos salários, despesas com o oficio, subordinação por superiores menos capacitados que o profissional, indisciplina escolar, constantes trabalhos extraescolar, falta de apoio familiar dos educandos, etc.
Como um profissional que tem em sua atuação a negação dos meios e condições favoráveis ao seu desempenho pode produzir a humanidade? De que maneira é possível melhorar significativamente a qualidade da educação se negam não apenas ao profissional da educação, mas negam sim aos estudantes esse direito? Quando se nega uma boa escola, um bom transporte, uma boa merenda, uma boa formação continuada, um salário digno, um dialogo democrático e um respeito ao professor, fica difícil exigir índices mais positivos.
Alguém já se questionou quando tivemos diálogos sobre o que precisamos fazer para melhorar os índices da educação? Um questionamento no plural feito pelos órgãos superiores? Ainda não vimos tal questionamento na coletividade. Ouço apenas o que cada escola deve fazer, cada professor, cada diretor escolar. Nunca o que devemos fazer? Juntos, buscando soluções. Está difícil o diálogo!
Recordamos no ano de 1999 quando estávamos ainda na implantação da municipalização do ensino onde debatíamos na Universidade os seus possíveis efeitos e algo nos incomodava por demais, o fato de que com a municipalização, a politicagem iria afetar o andamento da gestão pública. E hoje quase duas décadas depois, presenciamos isso com total veemência. A politicagem faz o gestor olhar apenas para si próprio com atos antiéticos, que visam o benefício próprio e não a sociedade, daí a prepotência, a ditadura e a intolerância se manifestam.
Acreditávamos na desburocratização da educação, porém hoje precisamos rediscutir isso e trazer o debate sobre a federalização da educação como possível alternativa, necessitamos ainda de muitos debates. É interessante refletir, trazer a gestão para o município foi aproximar do servidor a solução dos problemas, porém, trouxe também perseguições, desrespeitos e a falsa imagem de que a culpa do fracasso da educação é do professor, não do governo.
Na atualidade há apenas uma difamação do profissional que durante décadas vêm atuando e tentando segurar a situação sozinho. Falam que ganhamos bem, que não precisamos melhorar salários, que trabalhamos pouco. Ok, então façamos as contas, amamos matemática!
a)Quanto custa uma graduação universitária, mesmo as públicas? No mínimo quatro anos de livros, apostilas, transportes, lanches, trabalhos, cursos, etc.
b) Quanto custa uma especialização, mesmo as públicas?
c) Quanto custa um mestrado ou doutorado mesmo dentro do Brasil? Porque fora você ainda iria incluir no mínimo três viagens internacionais, com despesas de passagens, hospedagens e alimentação.
d) Quanto custa você comprar recursos multimídias por ano para melhoria de suas aulas? Nossos notbooks todos os anos precisam ser substituídos. O constante manuseio faz com que eles não tenham muita vida útil.
e) Quanto custa ao ano a gasolina, peças, manutenção, IPVA, seguro de seu veículo para conduzi-lo ao trabalho?
f) Quanto custa ao ano às várias vezes que colaborou nas despesas de culminâncias de projetos da escola que lhes cobram de seus salários?
g) Quanto lhe custa às consultas médicas e exames provenientes do desgaste psíquico e físico oriundos da profissão?
h) Quanto lhe custa suas vestimentas para estar apresentável em sala de aula e assim se postar diante seu ofício?
Ufa!! Achou muito? Ainda não estão incluídas as despesas fixas pessoais que estão fora do trabalho educativo ( aluguel, plano de saúde, cartão de crédito, IRPF, água, luz, internet, telefone, etc).
Quanto aos que afirmam que professor trabalha pouco, desafio a qualquer um visitar a casa de um professor (aqui reafirmo professor) pra ver se não irão encontrar um amontoado de avaliações a corrigir e materiais pesquisados para suas aulas. Quantos não dormem menos de 8 horas para assim garantirem boas aulas a seus alunos? 
Também é preciso falar no valor sentimental, ético, moral e político que o professor transmite aos seus alunos, esses não tem preço a pagar.
É claro que temos alguns profissionais ainda descompromissados, isto é óbvio, porém, não podemos generalizar a classe em detrimento de alguns que apenas são meros reprodutores de aulas e métodos arcaicos que foram aplicados desde que iniciou sua trajetória na educação ou que não se comportam como mestres do saber. Não são muitos, acreditamos! 
Especificando também outros profissionais sem o necessário compromisso, o que dizer dos que ontem eram colegas e hoje ao estarem ocupando cargos de chefia não estão comungando da ideia de união da classe? Ficamos a nos perguntar se vocês colegas, dormem tranquilos, quando se vendem por míseras comissões para não nos apoiarem? Não conseguem enxergar que são também professores? Que não ficarão em seus cargos por toda a vida? Que num futuro próximo é possível estarmos na mesma sala de professores e sentarmos na mesma mesa? Vocês terão coragem de nos olhar frente a frente?
Será mesmo que levarão as folhas para serem descontados os salários de seus colegas que estão em greve, que estão lutando por direitos que são de todos, inclusive os de Vossas Senhorias que estão com cargos?
Fico a imaginar... Não gostaríamos de estar em vossas peles... Más, acreditamos, ainda que existam profissionais que amam suas profissões e não farão isso com seus semelhantes. Gostaríamos de vermos exemplos de profissionais que se libertaram dessas amarras e se aboliram em prol de nossa causa. Estes sim, teriam nossa admiração e respeito! E consequentemente teriam a certeza de dormir o sono do justo, deitar sobre seus travesseiros e ter vossas consciências tranquilas.
Somos também sabedores de alguns profissionais que não estão apoiando tais mazelas, que se encontram de mãos atadas para não serem prejudicados e que se arrependem de terem deixado suas salas de aula e estarem na situação que estão.
Quanto à melhoria, não sabemos quando ocorrerá, apenas lutamos e nos manifestamos contra tudo que ocorre. Ficamos a indagar sobre a raiva que se solidificou aos professores de Campo Formoso, o ódio que se firma a cada ato e isso faz-nos buscar as respostas de Jalal ad-Din Muhammad Rumi, mestre espiritual persa do século XIII, quando lhe foi perguntado, Mestre o que é raiva? E este respondeu: É a não aceitação do que está além do nosso controle. Se aceitamos, se torna tolerância; Mestre o que é ódio? É a não aceitação das pessoas como elas são. Se aceitamos incondicionalmente, então se torna amor.
Sim precisamos ser aceitos, ouvidos e respeitados, assim, com amor, possamos construir melhor a educação, a escola, o aluno e a comunidade.
Caríssimos colegas professores que não aderiram a greve, respeitamos vossas escolhas, mesmo não concordando, cada um tem seus motivos, más não esqueçam seus colegas estão se sacrificando por vocês!
                                                                                   
Caríssimos alunos e pais, não vamos esmorecer, vamos lutar, vamos com dignidade lutar por nossos direitos, afinal não podemos permitir regredir, voltarmos a ser meramente uma foto em preto e branco sem cor, sem vida e com uma caracterização de atraso, de algo que a traça destruiu, que o tempo congelou. Vamos sim buscar nas imagens memoráveis dos velhos álbuns fotográficos, as lutas, as batalhas, os exemplos de vitórias que marcaram as conquistas de nosso plano de cargos e salários, piso, férias, direito a escolas públicas de qualidade, aumento de matrículas, livros didáticos, merenda de qualidade, transporte escolar, educação do campo, quilombola, indígena, especial, etc.
Para finalizarmos, rogamos ao Pai por melhores dias e invocamos a Santíssima Trindade: Pai, filho e Espírito Santo, onde nesta nossa luta de educadores o Pai traduz-se em força, o Filho em esperança e o Espírito Santo em Luz.  Assim sairemos da escuridão, das trevas, do preto e branco e chegaremos a luz!