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segunda-feira, 31 de julho de 2017

A Educação fotografada em preto e branco!



A Educação fotografada em preto e branco!

José Carlos Reis Feitosa- Me. em Educação


Tem momentos que nos pegamos a pensar que estamos em outro plano espiritual. Será que desencarnamos e ainda não entendemos o que ocorre? E porque que está tudo tão preto e branco, sem cor, sem vida?
Olhamos a paisagem e nos sentimos congelados no tempo, mas só nos sentimos assim porque já vimos estas mesmas paisagens tão coloridas, tão vivas, tão vitoriosas. Parece-nos que fizemos uma viagem no tempo e que estamos agora presos nesse tempo antigo, de memórias desgastadas, amareladas, ruídas, rasgadas... Falta-nos esperança, sonhos, forças para colorir tudo e assim voltar ao plano de onde viemos... Onde tudo se fazia luta, coragem e vitórias, mesmo em meio às dificuldades para o alcance de tal sucesso.
Então foi nesse tempo de vitórias que vimos na querida Campo Formoso colegas professores exercerem suas profissões alegres, alunos cheios de ideais, gestores democráticos e comprometidos e uma sociedade muito otimista.
Vimos professores ganhando prêmio nacional de educação e isso foi orgulho para que em palestras pudéssemos enaltecer ainda mais os rumos da educação campoformosense. Aqui outrora foi terra que formou grandes cidadãos e que hoje ocupam os mais diversos cargos nesta sociedade baiana, e quem os ajudou? Nós professores!
Trazemos em memória o saudoso Professor Rômulo Galvão, que lapidado por seus primeiros professores em Poços chegou a ocupar o cargo de Secretário de Educação do Governo Estadual, Secretário da Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação, Delegado Federal do Ministério da Educação para o Estado da Bahia e Presidente do Conselho Estadual de Educação. Isso nos engrandece enquanto professores que somos, pois temos consciência de onde pode chegar o exercício de nossa profissão. Na atualidade temos vários ex-alunos atuando nas diversas atividades profissionais, não só em Campo Formoso, mas em todos os lugares desse mundo.
Conhecemos colegas professores da atualidade que ganharam premio nacional em Educação. Sim caríssimas colegas da extinta Escola Ativa, hoje Escola da Terra. Usamos esse exemplo em tantas formações pelo estado da Bahia à fora, elevando o nome de Campo Formoso tão amada.
Tínhamos orgulho de recebermos os melhores salários do interior do Estado e os incentivos não eram poucos, pois a educação nas imagens reais era colorida, viva... E olha que não tínhamos IDEB, nem metas a cumprir para que nos garantíssemos os recursos necessários ao funcionamento das escolas...
É fato que havia uma precariedade, mas conseguíamos formar muito mais estudantes conscientes e críticos que os dias atuais. Então o que aconteceu?
Aconteceu que interesses politiqueiros tomaram conta da cidade nos últimos anos, entrava um, sai. Entrava outro, saia... Ninguém teve condições de olhar para os vários setores da gestão e a educação, mola propulsora do desenvolvimento e crescimento da sociedade, ficou a deriva. Agora culpam os professores de índices negativos da educação do município.
Mas, nós professores que segundo Dermeval Saviani: somos executores do ato de produzir direta e intencionalmente, em cada indivíduo a humanidade produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens, não podemos aceitar essa culpa, pois não dependem apenas dos professores as condições materiais para essa produção.
Primeiramente precisamos de condições psíquicas que nos favoreçam trabalharmos felizes, prazerosos e fisicamente saudáveis. A infelicidade se apresenta sobre vários aspectos: baixos salários, despesas com o oficio, subordinação por superiores menos capacitados que o profissional, indisciplina escolar, constantes trabalhos extraescolar, falta de apoio familiar dos educandos, etc.
Como um profissional que tem em sua atuação a negação dos meios e condições favoráveis ao seu desempenho pode produzir a humanidade? De que maneira é possível melhorar significativamente a qualidade da educação se negam não apenas ao profissional da educação, mas negam sim aos estudantes esse direito? Quando se nega uma boa escola, um bom transporte, uma boa merenda, uma boa formação continuada, um salário digno, um dialogo democrático e um respeito ao professor, fica difícil exigir índices mais positivos.
Alguém já se questionou quando tivemos diálogos sobre o que precisamos fazer para melhorar os índices da educação? Um questionamento no plural feito pelos órgãos superiores? Ainda não vimos tal questionamento na coletividade. Ouço apenas o que cada escola deve fazer, cada professor, cada diretor escolar. Nunca o que devemos fazer? Juntos, buscando soluções. Está difícil o diálogo!
Recordamos no ano de 1999 quando estávamos ainda na implantação da municipalização do ensino onde debatíamos na Universidade os seus possíveis efeitos e algo nos incomodava por demais, o fato de que com a municipalização, a politicagem iria afetar o andamento da gestão pública. E hoje quase duas décadas depois, presenciamos isso com total veemência. A politicagem faz o gestor olhar apenas para si próprio com atos antiéticos, que visam o benefício próprio e não a sociedade, daí a prepotência, a ditadura e a intolerância se manifestam.
Acreditávamos na desburocratização da educação, porém hoje precisamos rediscutir isso e trazer o debate sobre a federalização da educação como possível alternativa, necessitamos ainda de muitos debates. É interessante refletir, trazer a gestão para o município foi aproximar do servidor a solução dos problemas, porém, trouxe também perseguições, desrespeitos e a falsa imagem de que a culpa do fracasso da educação é do professor, não do governo.
Na atualidade há apenas uma difamação do profissional que durante décadas vêm atuando e tentando segurar a situação sozinho. Falam que ganhamos bem, que não precisamos melhorar salários, que trabalhamos pouco. Ok, então façamos as contas, amamos matemática!
a)Quanto custa uma graduação universitária, mesmo as públicas? No mínimo quatro anos de livros, apostilas, transportes, lanches, trabalhos, cursos, etc.
b) Quanto custa uma especialização, mesmo as públicas?
c) Quanto custa um mestrado ou doutorado mesmo dentro do Brasil? Porque fora você ainda iria incluir no mínimo três viagens internacionais, com despesas de passagens, hospedagens e alimentação.
d) Quanto custa você comprar recursos multimídias por ano para melhoria de suas aulas? Nossos notbooks todos os anos precisam ser substituídos. O constante manuseio faz com que eles não tenham muita vida útil.
e) Quanto custa ao ano a gasolina, peças, manutenção, IPVA, seguro de seu veículo para conduzi-lo ao trabalho?
f) Quanto custa ao ano às várias vezes que colaborou nas despesas de culminâncias de projetos da escola que lhes cobram de seus salários?
g) Quanto lhe custa às consultas médicas e exames provenientes do desgaste psíquico e físico oriundos da profissão?
h) Quanto lhe custa suas vestimentas para estar apresentável em sala de aula e assim se postar diante seu ofício?
Ufa!! Achou muito? Ainda não estão incluídas as despesas fixas pessoais que estão fora do trabalho educativo ( aluguel, plano de saúde, cartão de crédito, IRPF, água, luz, internet, telefone, etc).
Quanto aos que afirmam que professor trabalha pouco, desafio a qualquer um visitar a casa de um professor (aqui reafirmo professor) pra ver se não irão encontrar um amontoado de avaliações a corrigir e materiais pesquisados para suas aulas. Quantos não dormem menos de 8 horas para assim garantirem boas aulas a seus alunos? 
Também é preciso falar no valor sentimental, ético, moral e político que o professor transmite aos seus alunos, esses não tem preço a pagar.
É claro que temos alguns profissionais ainda descompromissados, isto é óbvio, porém, não podemos generalizar a classe em detrimento de alguns que apenas são meros reprodutores de aulas e métodos arcaicos que foram aplicados desde que iniciou sua trajetória na educação ou que não se comportam como mestres do saber. Não são muitos, acreditamos! 
Especificando também outros profissionais sem o necessário compromisso, o que dizer dos que ontem eram colegas e hoje ao estarem ocupando cargos de chefia não estão comungando da ideia de união da classe? Ficamos a nos perguntar se vocês colegas, dormem tranquilos, quando se vendem por míseras comissões para não nos apoiarem? Não conseguem enxergar que são também professores? Que não ficarão em seus cargos por toda a vida? Que num futuro próximo é possível estarmos na mesma sala de professores e sentarmos na mesma mesa? Vocês terão coragem de nos olhar frente a frente?
Será mesmo que levarão as folhas para serem descontados os salários de seus colegas que estão em greve, que estão lutando por direitos que são de todos, inclusive os de Vossas Senhorias que estão com cargos?
Fico a imaginar... Não gostaríamos de estar em vossas peles... Más, acreditamos, ainda que existam profissionais que amam suas profissões e não farão isso com seus semelhantes. Gostaríamos de vermos exemplos de profissionais que se libertaram dessas amarras e se aboliram em prol de nossa causa. Estes sim, teriam nossa admiração e respeito! E consequentemente teriam a certeza de dormir o sono do justo, deitar sobre seus travesseiros e ter vossas consciências tranquilas.
Somos também sabedores de alguns profissionais que não estão apoiando tais mazelas, que se encontram de mãos atadas para não serem prejudicados e que se arrependem de terem deixado suas salas de aula e estarem na situação que estão.
Quanto à melhoria, não sabemos quando ocorrerá, apenas lutamos e nos manifestamos contra tudo que ocorre. Ficamos a indagar sobre a raiva que se solidificou aos professores de Campo Formoso, o ódio que se firma a cada ato e isso faz-nos buscar as respostas de Jalal ad-Din Muhammad Rumi, mestre espiritual persa do século XIII, quando lhe foi perguntado, Mestre o que é raiva? E este respondeu: É a não aceitação do que está além do nosso controle. Se aceitamos, se torna tolerância; Mestre o que é ódio? É a não aceitação das pessoas como elas são. Se aceitamos incondicionalmente, então se torna amor.
Sim precisamos ser aceitos, ouvidos e respeitados, assim, com amor, possamos construir melhor a educação, a escola, o aluno e a comunidade.
Caríssimos colegas professores que não aderiram a greve, respeitamos vossas escolhas, mesmo não concordando, cada um tem seus motivos, más não esqueçam seus colegas estão se sacrificando por vocês!
                                                                                   
Caríssimos alunos e pais, não vamos esmorecer, vamos lutar, vamos com dignidade lutar por nossos direitos, afinal não podemos permitir regredir, voltarmos a ser meramente uma foto em preto e branco sem cor, sem vida e com uma caracterização de atraso, de algo que a traça destruiu, que o tempo congelou. Vamos sim buscar nas imagens memoráveis dos velhos álbuns fotográficos, as lutas, as batalhas, os exemplos de vitórias que marcaram as conquistas de nosso plano de cargos e salários, piso, férias, direito a escolas públicas de qualidade, aumento de matrículas, livros didáticos, merenda de qualidade, transporte escolar, educação do campo, quilombola, indígena, especial, etc.
Para finalizarmos, rogamos ao Pai por melhores dias e invocamos a Santíssima Trindade: Pai, filho e Espírito Santo, onde nesta nossa luta de educadores o Pai traduz-se em força, o Filho em esperança e o Espírito Santo em Luz.  Assim sairemos da escuridão, das trevas, do preto e branco e chegaremos a luz!













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