A Educação fotografada
em preto e branco!
José Carlos Reis
Feitosa- Me. em Educação
Tem momentos que nos
pegamos a pensar que estamos em outro plano espiritual. Será que desencarnamos
e ainda não entendemos o que ocorre? E porque que está tudo tão preto e branco,
sem cor, sem vida?
Olhamos a
paisagem e nos sentimos congelados no tempo, mas só nos sentimos assim porque
já vimos estas mesmas paisagens tão coloridas, tão vivas, tão vitoriosas.
Parece-nos que fizemos uma viagem no tempo e que estamos agora presos nesse
tempo antigo, de memórias desgastadas, amareladas, ruídas, rasgadas... Falta-nos
esperança, sonhos, forças para colorir tudo e assim voltar ao plano de onde viemos...
Onde tudo se fazia luta, coragem e vitórias, mesmo em meio às dificuldades para
o alcance de tal sucesso.
Então foi nesse
tempo de vitórias que vimos na querida Campo Formoso colegas professores
exercerem suas profissões alegres, alunos cheios de ideais, gestores
democráticos e comprometidos e uma sociedade muito otimista.
Vimos professores
ganhando prêmio nacional de educação e isso foi orgulho para que em palestras
pudéssemos enaltecer ainda mais os rumos da educação campoformosense. Aqui
outrora foi terra que formou grandes cidadãos e que hoje ocupam os mais
diversos cargos nesta sociedade baiana, e quem os ajudou? Nós professores!
Trazemos em
memória o saudoso Professor Rômulo Galvão, que lapidado por seus primeiros
professores em Poços chegou a ocupar o cargo de Secretário de Educação do
Governo Estadual, Secretário da Secretaria de Educação Especial do Ministério
da Educação, Delegado Federal do Ministério da Educação para o Estado da Bahia
e Presidente do Conselho Estadual de Educação. Isso nos engrandece enquanto
professores que somos, pois temos consciência de onde pode chegar o exercício
de nossa profissão. Na atualidade temos vários ex-alunos atuando nas diversas
atividades profissionais, não só em Campo Formoso, mas em todos os lugares
desse mundo.
Conhecemos
colegas professores da atualidade que ganharam premio nacional em Educação. Sim
caríssimas colegas da extinta Escola Ativa, hoje Escola da Terra. Usamos esse
exemplo em tantas formações pelo estado da Bahia à fora, elevando o nome de
Campo Formoso tão amada.
Tínhamos orgulho
de recebermos os melhores salários do interior do Estado e os incentivos não
eram poucos, pois a educação nas imagens reais era colorida, viva... E olha que
não tínhamos IDEB, nem metas a cumprir para que nos garantíssemos os recursos
necessários ao funcionamento das escolas...
É fato que havia
uma precariedade, mas conseguíamos formar muito mais estudantes conscientes e
críticos que os dias atuais. Então o que aconteceu?
Aconteceu que
interesses politiqueiros tomaram conta da cidade nos últimos anos, entrava um,
sai. Entrava outro, saia... Ninguém teve condições de olhar para os vários
setores da gestão e a educação, mola propulsora do desenvolvimento e
crescimento da sociedade, ficou a deriva. Agora culpam os professores de índices
negativos da educação do município.
Mas, nós
professores que segundo Dermeval Saviani: somos executores do ato de produzir
direta e intencionalmente, em cada indivíduo a humanidade produzida histórica e
coletivamente pelo conjunto dos homens, não podemos aceitar essa culpa, pois
não dependem apenas dos professores as condições materiais para essa produção.
Primeiramente
precisamos de condições psíquicas que nos favoreçam trabalharmos felizes,
prazerosos e fisicamente saudáveis. A infelicidade se apresenta sobre vários
aspectos: baixos salários, despesas com o oficio, subordinação por superiores
menos capacitados que o profissional, indisciplina escolar, constantes
trabalhos extraescolar, falta de apoio familiar dos educandos, etc.
Como um
profissional que tem em sua atuação a negação dos meios e condições favoráveis
ao seu desempenho pode produzir a humanidade? De que maneira é possível
melhorar significativamente a qualidade da educação se negam não apenas ao
profissional da educação, mas negam sim aos estudantes esse direito? Quando se
nega uma boa escola, um bom transporte, uma boa merenda, uma boa formação
continuada, um salário digno, um dialogo democrático e um respeito ao
professor, fica difícil exigir índices mais positivos.
Alguém já se
questionou quando tivemos diálogos sobre o que precisamos fazer para melhorar
os índices da educação? Um questionamento no plural feito pelos órgãos
superiores? Ainda não vimos tal questionamento na coletividade. Ouço apenas o
que cada escola deve fazer, cada professor, cada diretor escolar. Nunca o que
devemos fazer? Juntos, buscando soluções. Está difícil o diálogo!
Recordamos no ano
de 1999 quando estávamos ainda na implantação da municipalização do ensino onde
debatíamos na Universidade os seus possíveis efeitos e algo nos incomodava por
demais, o fato de que com a municipalização, a politicagem iria afetar o andamento
da gestão pública. E hoje quase duas décadas depois, presenciamos isso com
total veemência. A politicagem faz o gestor olhar apenas para si próprio com
atos antiéticos, que visam o benefício próprio e não a sociedade, daí a
prepotência, a ditadura e a intolerância se manifestam.
Acreditávamos na
desburocratização da educação, porém hoje precisamos rediscutir isso e trazer o
debate sobre a federalização da educação como possível alternativa, necessitamos
ainda de muitos debates. É interessante refletir, trazer a gestão para o
município foi aproximar do servidor a solução dos problemas, porém, trouxe
também perseguições, desrespeitos e a falsa imagem de que a culpa do fracasso
da educação é do professor, não do governo.
Na atualidade há
apenas uma difamação do profissional que durante décadas vêm atuando e tentando
segurar a situação sozinho. Falam que ganhamos bem, que não precisamos melhorar
salários, que trabalhamos pouco. Ok, então façamos as contas, amamos
matemática!
a)Quanto custa
uma graduação universitária, mesmo as públicas? No mínimo quatro anos de
livros, apostilas, transportes, lanches, trabalhos, cursos, etc.
b) Quanto custa
uma especialização, mesmo as públicas?
c) Quanto custa
um mestrado ou doutorado mesmo dentro do Brasil? Porque fora você ainda iria
incluir no mínimo três viagens internacionais, com despesas de passagens,
hospedagens e alimentação.
d) Quanto custa
você comprar recursos multimídias por ano para melhoria de suas aulas? Nossos
notbooks todos os anos precisam ser substituídos. O constante manuseio faz com
que eles não tenham muita vida útil.
e) Quanto custa
ao ano a gasolina, peças, manutenção, IPVA, seguro de seu veículo para
conduzi-lo ao trabalho?
f) Quanto custa
ao ano às várias vezes que colaborou nas despesas de culminâncias de projetos
da escola que lhes cobram de seus salários?
g) Quanto lhe
custa às consultas médicas e exames provenientes do desgaste psíquico e físico
oriundos da profissão?
h) Quanto lhe
custa suas vestimentas para estar apresentável em sala de aula e assim se
postar diante seu ofício?
Ufa!! Achou muito?
Ainda não estão incluídas as despesas fixas pessoais que estão fora do trabalho
educativo ( aluguel, plano de saúde, cartão de crédito, IRPF, água, luz,
internet, telefone, etc).
Quanto aos que
afirmam que professor trabalha pouco, desafio a qualquer um visitar a casa de
um professor (aqui reafirmo professor) pra ver se não irão encontrar um
amontoado de avaliações a corrigir e materiais pesquisados para suas aulas.
Quantos não dormem menos de 8 horas para assim garantirem boas aulas a seus
alunos?
Também é preciso
falar no valor sentimental, ético, moral e político que o professor transmite
aos seus alunos, esses não tem preço a pagar.
É claro que temos
alguns profissionais ainda descompromissados, isto é óbvio, porém, não podemos
generalizar a classe em detrimento de alguns que apenas são meros reprodutores
de aulas e métodos arcaicos que foram aplicados desde que iniciou sua
trajetória na educação ou que não se comportam como mestres do saber. Não são
muitos, acreditamos!
Especificando também
outros profissionais sem o necessário compromisso, o que dizer dos que ontem
eram colegas e hoje ao estarem ocupando cargos de chefia não estão comungando
da ideia de união da classe? Ficamos a nos perguntar se vocês colegas, dormem
tranquilos, quando se vendem por míseras comissões para não nos apoiarem? Não
conseguem enxergar que são também professores? Que não ficarão em seus cargos por
toda a vida? Que num futuro próximo é possível estarmos na mesma sala de
professores e sentarmos na mesma mesa? Vocês terão coragem de nos olhar frente
a frente?
Será mesmo que
levarão as folhas para serem descontados os salários de seus colegas que estão
em greve, que estão lutando por direitos que são de todos, inclusive os de
Vossas Senhorias que estão com cargos?
Fico a
imaginar... Não gostaríamos de estar em vossas peles... Más, acreditamos, ainda
que existam profissionais que amam suas profissões e não farão isso com seus
semelhantes. Gostaríamos de vermos exemplos de profissionais que se libertaram
dessas amarras e se aboliram em prol de nossa causa. Estes sim, teriam nossa
admiração e respeito! E consequentemente teriam a certeza de dormir o sono do
justo, deitar sobre seus travesseiros e ter vossas consciências tranquilas.
Somos também sabedores
de alguns profissionais que não estão apoiando tais mazelas, que se encontram
de mãos atadas para não serem prejudicados e que se arrependem de terem deixado
suas salas de aula e estarem na situação que estão.
Quanto à
melhoria, não sabemos quando ocorrerá, apenas lutamos e nos manifestamos contra
tudo que ocorre. Ficamos a indagar sobre a raiva que se solidificou aos
professores de Campo Formoso, o ódio que se firma a cada ato e isso faz-nos buscar
as respostas de Jalal ad-Din Muhammad
Rumi, mestre espiritual persa do século XIII, quando lhe foi perguntado, Mestre
o que é raiva? E este respondeu: É a não aceitação
do que está além do nosso controle. Se aceitamos, se torna tolerância;
Mestre o que é ódio? É a não aceitação das pessoas como elas são. Se
aceitamos incondicionalmente, então se torna amor.
Sim precisamos ser
aceitos, ouvidos e respeitados, assim, com amor, possamos construir melhor a educação,
a escola, o aluno e a comunidade.
Caríssimos colegas professores que não aderiram a greve, respeitamos vossas escolhas, mesmo não concordando, cada um tem seus motivos, más não esqueçam seus colegas estão se sacrificando por vocês!
Caríssimos colegas professores que não aderiram a greve, respeitamos vossas escolhas, mesmo não concordando, cada um tem seus motivos, más não esqueçam seus colegas estão se sacrificando por vocês!
Caríssimos alunos e pais, não vamos esmorecer, vamos lutar, vamos com
dignidade lutar por nossos direitos, afinal não podemos permitir regredir,
voltarmos a ser meramente uma foto em preto e branco sem cor, sem vida e com
uma caracterização de atraso, de algo que a traça destruiu, que o tempo
congelou. Vamos sim buscar nas imagens memoráveis dos velhos álbuns
fotográficos, as lutas, as batalhas, os exemplos de vitórias que marcaram as
conquistas de nosso plano de cargos e salários, piso, férias, direito a escolas
públicas de qualidade, aumento de matrículas, livros didáticos, merenda de
qualidade, transporte escolar, educação do campo, quilombola, indígena,
especial, etc.
Para finalizarmos, rogamos ao Pai por melhores dias e
invocamos a Santíssima Trindade: Pai, filho e Espírito Santo, onde nesta nossa luta
de educadores o Pai traduz-se em força, o Filho em esperança e o Espírito Santo
em Luz. Assim sairemos da escuridão, das trevas, do
preto e branco e chegaremos a luz!
Nenhum comentário:
Postar um comentário