Este blog tem a pretensão de ser um espaço democrático destinado à publicação de textos, informações, artigos científicos, divulgação de eventos e comentários a respeito dos campos da Educação do Campo de Senhor do Bonfim e região, com ênfase aos estudos e conhecimentos pedagógicos locais. O blog é coordenado pelo Prof. José Carlos R.Feitosa (reisfeitosa@hotmail.com), a partir do exercício de sua função como educador e estudioso do fazer pedagógico. Sejam bem vindos!

domingo, 8 de dezembro de 2013

Seminário Interestadual de Pesquisadores de Classes  Multisseriadas – Salvador – 05 e 06 de dezembro 2013

Com o objetivo de fomentar o debate sobre as condições reais das escolas do campo/classes multisseriadas, buscando indicativos e elementos propositivos que contribuam para a construção das Diretrizes Curriculares a partir da escuta dos professores aconteceu com muito bom êxito e foi de suma importância ter a oportunidade de participar desse evento, levando a experiência das escolas de Senhor do Bonfim e Campo Formoso por onde vivencie a ação da educação do campo local.
Foram dois dias de palestras e testemunhos de práticas pedagógicas que muito vão contribuir com construção dessas Diretrizes para o Estado da Bahia. (Precisamos de um referencial nosso, que nos identifique e que tenha nosso identidade).

Iniciamos por uma apresentação cultural já demonstrando a importância do envolvimento da comunidade com a proposta de educação do campo onde a comunidade quilombola de Dandá de Simões Filho fez uma bela apresentação da capoeira com musicas que retrataram a força da mulher quilombola e em seguida a roda de samba com mulheres e crianças demonstrando a alegria e entusiasmo com a cultura local.
Em seguida foi feita a apresentação da equipe de coordenação pela coordenadora da educação do campo do Estado da Bahia Givandete Evangelista ( Vanda), e Olga Alice coordenadora do seminário.

Após as apresentações duas palestras foram proferidas com Salomão Hage, referencia nas classes multisseriadas , o primeiro a introduzir a temática das classes multisseriadas nas universidades e Ivânia Freitas, também pesquisadora da temática que há anos já contribuí para a educação do campo do semi-árido baiano.
Hage nos aponta que há muito tempo  foi construído uma identidade com a expressão de que as escolas multisseriadas era um mal necessário, daí precisamos transgredir essa identidade, equivocada e preconceituosa. Coisa não muito fácil, pois há séculos essa identidade foi fortalecida.

Discorreu sobre  o agronegócio e sua consolidação, o lugar do campo no desenvolvimento, a alavanca da economia nacional, sobre a produção de comodites para exportação  e das lutas no campo onde 347 pessoas já morreram no campo tentando defender suas causas.
Falou sobre o quantitativo das populações do campo, das matriculas e do numero de classes seriadas que aponta ser o Nordeste a região de maior quantitativo e concluiu falando da formação de professores onde destacou que só organizando um programa de formação não vai ser suficiente para resolver o problema.Existem ainda 40% das escolas do campos em sede própria e que ainda não tem água potável.

Nos últimos anos foram fechadas 30 mil escolas do campo e se mostrou contra a nucleação escolar.
O MST tem liderado uma campanha contra o fechamento dessas escolas. “ Se a escola fecha é sinal de que nem a educação a comunidade merece” Fala de Anderson, um dos participantes do seminário.

Hage ainda frisou: faz diferença ser transportado no Sul do país e no Nordeste !
Contradições:
       ·         A legislação avança, avança no sentido de assegurar os direitos;

·         O atendimento se pauta pela relação custo/beneficio;

·         Em termos de políticas Públicas: realidade rural, referencias urbanas;

Heterogeneidade:
       ·         Característica fundante das escolas do campo

·         A maioria das escolas do campo são multisseriadas

·         Há uma polarização entre ser contra ou  a favor das escolas multisseriadas;

·         Há pouca ajuda para as escolas multisseriadas.

Nestes casos as escolas do campo são marcadas por uma ambiguidade:
- a precarização da estrutura física;
- as evidencias de situações críticas efetivadas no cotidiano pelos professores.

Finalizou com sua consideração “É preciso construir um documento de referencia , mesmo não sendo o ideal”.
Depois tivemos a fala de Ivânia Freitas que destacou alguns méritos das classes multisseriadas:

·         Saída do anonimato;

·         Avanço da legislação;

·         Avanço teórico;

·         O funcionamento nas redes, como se efetiva?

a)      As formas de acesso e formação-inicial e continuada;

b)      SME (equipes, formato, condições de acompanhamento, formatos dos cursos;

c)       Parcerias(institutos, ONGs, ...);

d)      Programas;

e)      Universidades (UNEB), currículo e perfil docente formados;

f)       Propostas políticas de formação (???????)
Ainda não foi alterada a situação das escolas do campo !
Ainda não foi alterado o currículo !
Fazer o que, como e de que forma?
É preciso ver os acertos nessas turmas multisseriadas.
De todas as falas o que marcou foi qual conceituação devemos apontar em direção as turmas cotidianamente chamadas de multisseries?

Seria turmas multisseriadas, ou escolas multisseriadas?  Essa discussão foi muito interessante.
Houve então os relatos de experiências que muito nos fortaleceu. Um destaque especial ao professor Isaac Nirlan da cidade de Gentil do Ouro que com sua simplicidade mostrou que é possível uma educação do campo, sobretudo com classes multisseriadas funcionar bem.

Imagine um professor sem formação, contratado apenas de março a novembro, que ganha pouco mais que um salário mínimo para poder pagar o local onde mora, em uma escola super precária , sem acompanhamento pedagógico e distante da sede, ele conseguiu fazer todos chorarem por apresentar uma escola super envolvida com a comunidade onde a aprendizagem e evidenciada pela dedicação, criatividade e entusiasmo desse profissional.
Isaac, parabéns, é desse profissional que o Brasil precisa !

Para finalizarmos foi feito trabalhos e grupos para responder alguns questionamento que servirão de base para a escrita do documento norteador da educação das classes multisseriadas, ou escolas multisseriadas da Bahia:
1-      Qual nosso olhar sobre as classes multisseriadas?
2-      Ensinar e aprender nas classes multisseriadas, como isso acontece?
3-      Quais as possibilidades de organização do trabalho pedagógico nas classes multisseriadas(Tempo pedagógico, enturmação, planejamento)?
4-      Como avaliar os alunos das classes multisseriadas?
5-      Que outros espaços de aprendizagens podem ser incorporados no contexto da classe multisseriada?
6-      Quis as possibilidades de reorganização e qualificação do tempo pedagógico na classe multisseriada?
7-      Quis os saberes e fazeres necessários para o educador atuar na classe multisseriada?
8-      Que espaços formativos são necessários para o educador da classe multisseriada?

Finalizando gostaria de falar do imenso prazer em ter estado presente neste seminário e aqui transmitir aos leitores deste blog e aos professores que fazem a educação do campo de Senhor do Bonfim e região um retorno do que eu enquanto pesquisador, estudioso e representante desse grupo me coloco à disposição!

Segue alguns momentos especiais em imagens:







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