Este blog tem a pretensão de ser um espaço democrático destinado à publicação de textos, informações, artigos científicos, divulgação de eventos e comentários a respeito dos campos da Educação do Campo de Senhor do Bonfim e região, com ênfase aos estudos e conhecimentos pedagógicos locais. O blog é coordenado pelo Prof. José Carlos R.Feitosa (reisfeitosa@hotmail.com), a partir do exercício de sua função como educador e estudioso do fazer pedagógico. Sejam bem vindos!

domingo, 26 de março de 2017

Não solte seu monstro! Uma análise dos suicídios em Campo Formoso e Senhor do Bonfim

                                           Por: José Carlos Reis Feitosa- M.e em Educação
          Quando se é criança, imaginamos que existem bruxas, dragões, fantasmas e que somos apenas crianças que devemos ser protegidos de todos esses monstros. Ao crescermos percebemos que muitos destes monstros só existem em nossa imaginação e que com o tempo concluímos que também existem monstros vivos por todas as partes e às vezes os identificamos como sendo os próprios homens. O pior deles em alguns casos somos nós mesmos.
        Muitos passam sua vida toda e nunca chegam a essa conclusão.
          Sim, existe um bicho adormecido dentro de cada um de nós. E o melhor a fazer é exercitar um controle sobre ele. A questão é que cada dia fica mais difícil dominar esse monstro, pois tudo que se faz de moderno corrabora na sua liberdade. Tão bom quando outrora sem tantas mídias tecnológicas e sem tantas redes sociais tínhamos mentes muito mais sadias que as de hoje.
          Fomos evoluindo e ficando cada dia mais dependente de máquinas e independentes dos demais seres humanos, nos tornamos artificiais e essa foi a brecha para esses monstros existentes dentro de cada um encontrar portas abertas para se apresentarem com mais força na modernidade.
          O monstro mais temido por todos, podemos chamá-lo de monstro do suicídio. Sim, pois esse é o único que tem o poder e as armas para destruir sua própria prisão que é o corpo de cada um de nós aqui apresentada como nossa consciência, nossa razão.
          A partir do momento que nos desvencilhamos da razão, de nossa consciência, perdemos a verdadeira caracterização que nos faz humanos.
          Sublinhando uma realidade mais próxima de libertação desse monstro. Observamos enquanto educador de jovens uma prática bastante acentuada nos últimos anos nas regiões de Senhor do Bonfim e Campo Formoso.  Isso nos preocupou  bastante.
          Ficamos a questionar o porquê de tantas pessoas darem liberdade a esse monstro, sobremaneira os jovens.
          Um tema bastante difícil de abordar é o suicídio. É tão complicado que segundo alguns especialistas na questão, até falar com os jovens sobre, já pode instiga-los a cometer. Por conta disso, este texto esta mais direcionado aos colegas professores e aos pais de alunos da nossa região.
          Enquanto educador, especializado em uma pedagogia Histórico-crítica da Educação, nos propusemos a refletir de que forma poderíamos tratar do assunto em que a prática social dos conteúdos pudessem chegar aos educandos, sem causar uma incitação á conduta e assim contribuir com a reflexão e a minimização dos dados estatísticos, principalmente em Campo Formoso e Senhor do Bonfim.
          Partindo dessas afirmativas, nos deparamos com alguns questionamentos:
1º) Porque tem aumentado tanto o número de suicídios em Campo Formoso e em Senhor do Bonfim?
2º) Porque dos casos ocorrido de suicídios e um numero maior é de jovens?
3º) O que as Instituições Escolares vêm fazendo para ajudar os jovens de nossa região nessa problemática?
4º) O que a sociedade civil e o poder público estão fazendo?
          Advertimos que não temos respostas prontas e cientificamente comprobatórias, são apenas pontos de vista desse humilde professor pesquisador que se respalda em falácias de alguns psicólogos e nas pesquisas documentadas em sites de busca.
Em primeiro analisaremos a questão do desejo de querer acabar com sua própria vida a partir de várias causas. Citamos algumas:
·         Depressão 
      (Doença psíquica considerada o mal do século que te faz querer fugir do convívio humano).
          A tristeza toma conta do ser, o isolamento e a fraqueza do corpo se acentuam tornando o indivíduo inicialmente escravo desse monstro para em seguida o libertar, Menezes (2015) afirma:
É uma doença cruel, dolorosa e insidiosa, que leva o hospedeiro a ter vontade de pedir ajuda para tomar banho, pentear cabelos e escovar os dentes: ela leva embora a energia vital presente em cada um de nós, transformando tarefas simples como se alimentar em tarefas complicadas como erguer um monumento. É uma máxima: não há beleza na depressão.
Muitas vezes os incentivos não geram resultados, todo e qualquer esforço falha ou parece falhar, e a desistência se apresenta como a única saída viável. Após a idéia da desistência, criar raízes firmes, a idealização do grand finale, o suicídio, parece se formar na mente do doente, límpida e nítida como uma pintura ou até mesmo como um filme.
          Assim também é importante descobrir as causas dessa doença como o desemprego, a perda de um ente querido, uma decepção amorosa, etc., pois também pode desencadear logo à prática do suicídio, quando não conduz à depressão que conseqüentemente acordará o monstro do suicídio.
·         Preconceito 
   (Decepção por não ser igual aos outros - Há uma campanha pelas mídias de que você nunca será perfeito diante dos outros).
          Neste mundo da era tecnológica, há uma criação de vários padrões de beleza e de perfeição instituído por aqueles que se acham melhores que os demais, e se expor torna-se cada dia mais necessário para uma manutenção do ser melhor que o outro, estamos cada dia mais num mundo de aparência do que de realidade. Segundo Meleiro(2016):
Jovens imersos em redes sociais como Facebook ou Instagram assistem a retratos de vidas fantásticas. Internautas tendem a selecionar posts que exibam suas melhores conquistas e construir cuidadosamente imagens coloridas de suas vidas. Por comparação a vida de quem assiste a esse espetáculo parece pior, principalmente quando surgem problemas.
·         Uso de Drogas
          Usar drogas nos dias atuais parece ser cada dia mais comum, desde o uso de álcool em festas até o uso de alucinógenos, anfetaminas, etc. Há campanhas para a liberação da maconha, o acesso a outros tipos esta cada dia mais fácil, a impunidade impera nos que trafica, gerando uma onda de violência e insegurança e toda a população. Por conta disso, o número de usuários aumenta a cada dia.
          De acordo com a professora Botega (2016):
“pessoas suicidas tendem a se envolver em comportamentos autodestrutivos, como o uso de drogas sem moderação. ‘Assim como o álcool contribui para a violência contra o próximo, ele pode desencadear violência contra si mesmo”.
          Imaginemos as drogas mais fortes e suas potencialidades na prática dessa violência.
·         Falta de uma prática de fé (espiritualidade)
          Hoje nos deparamos com apenas o excesso de materialismo, a falta de clareza sobre o certo e errado, a sensação de vazio, de falta de prazer e sentido pra vida.
          Observamos que as famílias numa maioria não mais se preocupam com o ensino religioso nas catequeses, as instituições educativas foram proibidas de apresentarem filosofias religiosas e ser religioso hoje passou a ser motivo de vergonha para muitos.
          A falta de espiritualidade é a ausência de ligação, indiferença e o fato de nem ao menos nos importarmos com isso. Daí o pensamento de acharmos que a vida não tem sentido não tem valor se efetiva, conduzindo o ser a libertar o monstro do suicídio que esta dentro de cada um.
          Então o que justificaria o crescente aumentado do número de suicídios em Campo Formoso e em Senhor do Bonfim?
          Realizamos um levantamento através de sites sobre o tema e constatamos que nos últimos 20 anos, nos dois municípios, tiveram o quantitativo de 54 suicídios conforme demonstramos no gráfico abaixo:
Fonte: sites pesquisados pelo autor
          Senhor do Bonfim se aproxima dos 60 % dos casos, durante esses últimos 20 anos, entretanto temos que considerar que a população de Campo Formoso é menor, então é possível que esses dados se aproximem um pouco nos dois municípios analisados.
          Senhor do Bonfim traz um histórico bastante triste nesta temática, até um prefeito já cometeu suicídio o Sr. Jonas Alves Costa no ano de 1996.
         Vamos analisar os últimos cinco anos:
Fonte: sites pesquisados pelo autor
          Deparamo-nos aqui, com uma realidade bem mais próxima nos dois municípios, levando novamente em consideração a diferença populacional de ambos, ou seja, Campo Formoso avançou em número de casos.
          Também queremos destacar aqui, algo que nos chama atenção, enquanto educadores. O crescente número de jovens que buscam dar fim as suas vidas nestes dois municípios.
          Os dados apresentados acima citados, dizem respeito ao público geral, mas afunilando para uma nova análise o que está ocorrendo com nossos jovens?
  
Fonte: sites pesquisados pelo autor
          De todos os casos de suicídios de 2002 a 2017, constatamos que Campo Formoso teve o dobro de casos de jovens, comparando a Senhor do Bonfim, isso é preciso analisar com mais afinco pelos órgãos públicos que governam essa cidade para assim intervir na realidade.
          Estes municípios por estarem localizados predominantemente em áreas rurais são considerados municípios rurais e no geral acabam sendo desprovidos de iniciativas de desenvolvimento por não serem tão vistos diante dos holofotes midiáticos.
         Aqui acrescento que, em ambas as cidades, não conhecemos aplicações de políticas públicas voltadas aos jovens como deveriam. Precisamos que as escolas destes municípios, além do conhecimento formal, gerem capacitação e profissionalização aos professores e estudantes com a concepção de uma educação do campo, no e para o campo e não urbanocêntrica. Que os poderes públicos desenvolvam incentivos aos esportes por meio do apoio aos atletas, construção de centros esportivos e parques e tamm a inclusão digital para tirar nossos jovens da ociosidade.
          Acabam que sem terem o que fazer, devido aos poucos atrativos, nossos jovens se limitam a frequentarem apenas festas que em sua maioria, movidas ao uso do álcool e das sicas que endeusam esses monstros que existem dentro de cada um, tipo “metralhadora”, “A santinha perdeu o juízo”, “me libera nega”, com nomes de bandas não muito convencionais a exemplo “La Fúria” ou “Vingadora”, ou seja, tudo fazendo apologia à violência, corroborando a degradação do que a cultura foi um dia. E nossos jovens, vítimas desse horror, não tem outras opções a não ser ingerir essas porcarias da atualidade e quem mais agradece é o monstro do suicídio.
         Esses posicionamentos também nos leva a pensar sobre o porquê de o número de jovens que cometem suicídio hoje, ter aumentado mais que os adultos. Afirma Fabio (2016):
“O suicídio tem crescido entre as causas de mortes de jovens até 19 anos no Brasil. Em 2013, 1% de todas as mortes de crianças e adolescentes do país foram por suicídio, ou 788 casos no total. O número pode parecer baixo, mas representa um aumento expressivo frente ao índice de 0,2% de 1980”.
         Enquanto que, adultos, pais de família e trabalhadores já possuem experiências de vida, os jovens precisam de uma atenção maior, pois se encontram ainda em processos de formação, por esse fato tornam-se mais vulneráveis a soltarem o monstro de cada um.
          Sobre a postura dos sistemas educacionais, acreditamos que ainda não se faz presente ações pedagógicas que venha de encontra a essa necessidade e também nas Unidades Escolares e seus Projetos Políticos Pedagógicos ainda não contemplam ações que possam ajudar os jovens estudantes de nossa região nessa problemática, bem como a sociedade civil, igualmente ainda não despertou para essa realidade.
          A psicóloga Doutora em educação, que defendeu a tese: A Escola Como Espaço de Prevenção ao Suicídio de Adolescentes, Célia Maria Ferreira da Silva Teixeira, afirma que a atitude dos colégios, tem de mudar. Segundo ela:
Mais do que o tema morte, o suicídio é um tabu para todos os setores da sociedade, inclusive nas escolas, que deveriam ser parceiras nesse combate. "Pelo contrário, as escolas ignoram", diz.
Diante desses esclarecimentos cabe a nós educadores trazer esse tema em pauta.
          Se desejarmos uma sociedade com menos monstros do suicídio soltos, precisamos incorporar em nossas práticas cotidianas, no fazer pedagógico, não somente um olhar para nossos jovens, mas atitudes práticas.
          Precisamos estudar, conhecer mais nossos alunos, nossa comunidade, e de posse desses conhecimentos permitir a socialização e a efetivação do trabalho educativo que nada mais é que de acordo com Saviani (2003, p. 13), é o “ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens”.
          Percebemos então que devemos considerar as temáticas que interage em nossos meios como conteúdos necessários à formação e ao desenvolvimento do educando no contexto da prática social, só assim contribuiremos para o desenvolvimento e a transformação das funções elementares de nossos alunos em funções superiores dando-lhes condições de destruírem esse citado monstro do suicídio ou pelo menos nunca acordá-lo.
          Chega de justificar que não sabemos lhe dar com o assunto por medo ou tabu, vamos estudar a temática e nos preparar melhor para esse grande desafio que é a eliminação desses monstros em nossas cidades. Fica a dica.
          O suicídio é a terceira causa que mais mata jovens no Brasil, perdendo somente para drogas e acidente de trânsito.
Sites pesquisados:



Nenhum comentário:

Postar um comentário