Este blog tem a pretensão de ser um espaço democrático destinado à publicação de textos, informações, artigos científicos, divulgação de eventos e comentários a respeito dos campos da Educação do Campo de Senhor do Bonfim e região, com ênfase aos estudos e conhecimentos pedagógicos locais. O blog é coordenado pelo Prof. José Carlos R.Feitosa (reisfeitosa@hotmail.com), a partir do exercício de sua função como educador e estudioso do fazer pedagógico. Sejam bem vindos!

quinta-feira, 5 de setembro de 2013


O Preconceito contra o Campo

XICO GRAZIANO


Querida professora, senhores pais: na festa junina do colégio, veste o menino de camisa xadrez, mas esquece o remendo falso, que caipira não gosta disso. Ele se veste direito. E, principalmente, elimine o maior dos horrores: aquele dentinho pintado de preto, para fingir que é banguela. Trata-se de um insulto ao homem do campo.

Folclore, sim. Preconceito dá cadeia.





Nas festas juninas, a dança da quadrilha é adorada. Aquelas crianças lindas, vestidas com roupas remendadas, chapéus de palha desfiados, marias-chiquinhas nos cabelos, cavanhaques e bigodes postiços buscam a caricatura do caipira. A brincadeira faz parte do folclore nacional, uma reverência às origens pátrias.

Lamentavelmente, porém, o disfarce sertanejo carrega um terrível preconceito contra o campo. O jeito errado de vestir e falar provoca, especialmente nas crianças, um torpe raciocínio: de que assim viveriam, na verdade, a gente rural. Miserável, suja, maltrapilha. Condenada ao subdesenvolvimento.

Na verdade, a sociedade brasileira ainda não se desvencilhou, como deveria, de um trauma histórico: a separação entre campo e cidade. Ao contrário dos países europeus, onde o processo de urbanização significou uma lenta transição, aqui houve uma forte ruptura entre o rural e o urbano. Restaram seqüelas.

Os valores urbano-industriais muito rapidamente se tornaram predominantes na sociedade. A industrialização virou um sonho, o consumismo deslanchou. O violento êxodo rural inchou as cidades, fornecendo braços para a construção civil. Nesse decurso a agricultura acabou sinônimo de passado.

O moderno está na cidade, na indústria, na moda do comércio. No inconsciente coletivo ocorreu uma inversão cultural e ideológica. A imagem rural ficou relacionada com o atraso, e o homem do campo virou caipira. Aqui reside a origem da visão preconceituosa sobre o mundo rural.

Vislumbra-se tal aversão no próprio idioma. Os fruticultores nunca descobriram porque toda vez que alguém se defronta com um grande dilema, invoca a fruta: “que abacaxi!” Ou se lembra da corcubitácea: “que pepino, heim!?” “Vá plantar batatas” soa como um tapa no rosto dos produtores rurais.

Nos escândalos financeiros, a roubalheira sempre apresenta um “laranja”, um bandido disfarçado. Moça de má fama vira “vaca”, homossexual é “veado”. Se alguém parece pouco inteligente, logo sofre o rótulo: “seu burro!” Coitado do bicho. Imagens que ?denigrem? a imagem da agricultura.

O papel da mídia é, como sempre, relevante. Ela potencializa a crítica ou o rótulo. Os agricultores reclamam, com razão, que nos jornais só dá notícia negativa. Invasão de “sem-terra”, contaminação de agrotóxicos, desmatamento irregular, trabalho infantil, trabalho escravo. Parece que do campo brota somente coisa ruim.

Já foi pior. Nos últimos anos, a opinião pública começou a perceber mais claramente a pujança da agropecuária nacional. Sua contribuição ao PIB, na geração de empregos e na captação de divisas acabou sendo percebida até pelos economistas mais ortodoxos, sempre obtusos. Enquanto a economia está parada, a agropecuária incorpora tecnologia, cresce fortemente, aumenta produtividade, exporta mais. Boas notícias chegam da roça.

Ter imagem positiva frente à opinião pública é fundamental. Este é o segredo da agricultura européia, onde a sociedade valoriza e defende o produtor rural, pois sabe que sua permanência na terra garante a segurança alimentar e protege a nação. Na Europa quem protege o campo é a cidade.

Infelizmente, aqui ocorre o contrário: a urbe desdenha do campo. Às vezes, o massacra com uma visão preconceituosa que delimita, à priori, uma escala de valores denegridos. Fazendeiro ainda é confundido com latifundiário, sitiante com Jeca Tatu, trabalhador rural com ignorante.

Cabe culpa, decerto, ao próprio setor. Velhas lideranças rurais repetem discursos caquéticos, elaborados na época de mando da oligarquia rural. Ruralistas perdulários teimam em penalizar os bons agricultores em detrimento dos salafrários. Nada disso ajuda o marketing rural.

Prejudicada também acaba a política agrícola. O maior desafio das lideranças rurais, associativas e políticas, está em convencer a opinião pública sobre a importância crucial dos agronegócios. É comum se assistir a excelentes discursos feitos “para nós mesmos”. Isso não resolve nada.

A tarefa exige comunicação de massa: se não fossem as exportações oriundas da roça a indústria não pagava suas contas. No interior, sem a agropecuária haveria uma quebradeira geral e um desemprego brutal. Nesse país, que ninguém duvide, somente passa fome quem não tem dinheiro para comprar, porque alimento a agricultura produz. E se precisar dobrar, é fácil. O campo tem que falar grosso!

Melhor. O agricultor precisa retomar o orgulho perdido de seus ancestrais. Bater no peito e estufar a voz. Mostrar a calça suja de terra e perguntar de onde vem a comida que sustenta a metrópole, o algodão da calça jeans, a borracha do pneu, o couro da bola de futebol...

  O momento está favorável para essa virada na imagem da agricultura. Com as festas de peão e o vigor das exposições agropecuárias, apareceu há anos uma nova diversão no país: o turismo rural. Antes, passear significava vestir short e ir à praia. Agora, a meninada da cidade grande se disfarça de cow-boy e viaja ao interior! Quer andar a cavalo e curtir a natureza.

Xico Graziano, agrônomo, foi presidente do Incra (1995) e secretário da Agricultura de São Paulo (1996-98) E-mail: xicograziano@terra.com.br

 
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SOMOS CAMPO!  CELEBREMOS A ALEGRIA, OS FRUTOS,

A FÉ DO CAMPONÊS!!!
 
     Santo Antonio  
 São João
                                                                          São Pedro

São Paulo
 
Tem tanta fogueira/ tem tanto balão/ tem tanta brincadeira todo mundo no terreiro faz adivinhação/ meu São João, eu não/ meu São João, eu não/ eu não tenho alegria/ só porque não vem/ só porque não vem/ quem tanto eu queria...

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