Este blog tem a pretensão de ser um espaço democrático destinado à publicação de textos, informações, artigos científicos, divulgação de eventos e comentários a respeito dos campos da Educação do Campo de Senhor do Bonfim e região, com ênfase aos estudos e conhecimentos pedagógicos locais. O blog é coordenado pelo Prof. José Carlos R.Feitosa (reisfeitosa@hotmail.com), a partir do exercício de sua função como educador e estudioso do fazer pedagógico. Sejam bem vindos!

sábado, 31 de agosto de 2013

Currículo para EJA
José Carlos Reis Feitosa
O conceito de currículo vai além de muitas formulações de pensamentos, pois na prática muitos especialistas apresentam definições próprias. Quando nos deparamos com a logística de um currículo específico pra Educação de Jovens e Adultos, a definição se amplia mais ainda, haja vista a especificidade dessa modalidade de ensino.Os jovens e adultos tem por si só características que os diferenciam em suas essências, o limite das fases de vida, das culturas adquiridas e do comportamento social são diversificados nessas duas etapas e querer tratá-los de forma homogênea com uma proposta única pode não tornar eficiente o objetivo do ensino. Entretanto percebe-se que os conhecimentos se entrelaçam e se comungam em um mesmo tempo e em um mesmo espaço, daí a necessidade de repensar a prática educativa voltada a essas duas fases da vida “jovens e adultos” em um único contexto, ou seja, o que realmente precisa ser aprendido.
O respeito a essa diferenciação no âmbito da sala de aula vai exigir do profissional a atitude de dar enfoque na linguagem e nos procedimentos apropriados a casa especificidade. Partindo dessa ideia no currículo voltado ao atendimento de jovens e adultos é preciso também respeitar quem é esse jovem, esse adulto e esse professor.
Na EJA percebemos a presença de jovens divididos sobre basicamente duas modalidades: alguns muitas das vezes trabalhadores já sendo pais de família ou colaboradores nas despesas da família, outros representantes de um grupo que a escola não aceita mais durante o dia pela questão da indisciplina e que acreditam ser durante a noite que eles terão melhores chances de desenvolverem suas aprendizagens. Já os adultos em sua maioria pais de família que trabalham durante todo o dia e que também tem seus afazeres domésticos para dar conta, buscam recuperar o tempo perdido de estudos e melhorar sua qualidade de vida. Diante dessas duas fazes que se encontram muitas das vezes no mesmo ambiente pensa-se numa proposta curricular que venha de encontro a essa especificidades sem favorecer nem desmerecer qualquer lado.É importante também pensar no profissional que atua nessa modalidade, ou seja o professor que recebe esses alunos para ajuda-lo também tem suas características quase sempre diferenciadas do profissional que atua durante o diurno, geralmente é um profissional que trabalha durante o dia e a noite, pois sua profissão exige dele desdobramento de turnos para garantir o padrão mínimo de qualidade de vida, muitas das vezes necessário ao aprimoramento da própria profissão, ficando assim com suas condições psicológicas, motoras, cognitivas e sociais prejudicadas.Portanto para um currículo de Eja que respeite essas diferenças e especificidades poderemos pensar em algo que tenha os seguintes parâmetros:
a) Reflexão continua de que o currículo deve ser sempre o centro do debate educacional;
b) Os conteúdos escolares são tão importantes quanto no ensino regular, porem devem ser expostos e explorados de forma especificas, respeitando as especificidades de tempo, espaço e condições favoráveis de aprendizagem;
c) Deve existir uma grade curricular que atenda não apenas a formação do cidadão (parte do pressuposto que Jovens e adultos já são cidadãos), más sobre tudo sua realização pessoal;
d) Reflexão do conjunto de conhecimentos que devem ser trabalhados e sobre tudo ampliado;
e) Respeito as experiências de aprendizagem que vão sendo vivenciadas no dia a dia desses alunos;
f) Construção de conhecimentos e experiências permeadas por contradições, vinculadas ou não a processos históricos;
g) Discussão, reformulação e ampliação, em diferentes dimensões, do que foi consignado no próprio político pedagógico da escola para essa modalidade;
h) Conjunção das diferentes ações e revelações advindas do processo de reflexão elaboração execução e avaliação do projeto da escola;
i) Respeito e aplicação da contextualização do espaço de vivencia dos alunos (sede, zona rural, semi-árido, ribeirinha, etc);
j) Repensar o conceito e a prática do termo pedagogia, partido da diferenciação da tipologia usada. É preciso incorporar o conceito de andragogia (ensino para adultos), para dar o tratamento correto aos parâmetros da EJA. A andragogia vai exigir do profissional reflexões do tipo:Adultos são motivados a aprender na medida em que experimentam que suas necessidades e interesses são satisfeitos;A aprendizagem está centrada na vida; por isso os programas devem ser voltados para situações da vida e não da disciplina;Experiência é a mais rica fonte para o adulto aprender, por isso, o centro da metodologia da educação do adulto é a análise das experiências;Os adultos têm necessidades de serem autodirigidos, por isto o papel do professor é engajar-se no processo de mútua investigação com os alunos e não apenas transmitir e avaliar;
l) Outros conceitos também precisam ser explorados para que possamos dar conta de toda a importância docurrículo voltado a EJA, conceitos como ecopedagogia (o saber conviver), egopedagogia (o saber ser) e a intelectopedagogia (O saber conhecer e o saber fazer);
m) Quanto a organização em Estágios, fica nítido ai o pensamento de ciclos de aprendizagem, entretanto ao analisar o contexto do jovem e adulto percebe-se que os ciclos ou mesmo seriação não atinge totalmente a razão do ser adulto em busca do conhecimento, pois pelo conhecimento prévio de mundo e de vida percebemos que esses alunos já passaram por várias ou ate todas as fases de desenvolvimento psicológico e motor, daí a reflexão de que o currículo da EJA deva contemplar um único período, ou seja um intervalo sem fim, onde inicia-se pelo processo de alfabetização mas que se estende por todos os anos num processo de letramento e evolução, mas nunca construção ou aquisição do conhecimento. Deve ser uma prática sustentada pela reflexão enquanto práxis. Não simplesmente um plano que é preciso cumprir, além do mais é preciso também que haja uma interação e atenção maior por parte dos gestores no atendimento aos alunos jovens e adultos que geralmente estudam no noturno, pois quase sempre ficam a mercê de uma escola sem direção, merenda, iluminação, atividade recreativas, etc.Currículo como diz César Coll “ É um elo entre a declaração de princípios gerais e sua tradução operacional, entre a teoria educacional e a prática pedagógica, entre o planejamento e a ação, entre o que é prescrito e o que realmente sucede nas salas de aula ”. Então é preciso ver a legislação e o que estão sendo feito na prática para assim sistematizar ações que venham de encontro ao desenvolvimento da aprendizagem e satisfação de todos os envolvidos na Educação de Jovens e adultos.
José Carlos Reis Feitosa – Professor EJA – Colégio Cândido Felix Martins

Senhor do Bonfim, sábado, 15 de novembro de 2008


Senhor do Bonfim, sábado, 15 de novembro de 2008
eitosa@hotmail.com

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